De Mohamed Ghilan
Tradução Ninevah Barreiros
“Se não fosse por seus problemas políticos e confrontos constantes uns contra os outros, os Muçulmanos teriam chegado à lua no ano de 1400” foi a alegação feita por um professor não muçulmano para uma turma de 400 alunos de História da Ciência. Parece que o nível de descobertas e avanços na ciência alcançados pelos Muçulmanos foi um tanto quanto impressionante e ainda está para ser copiado. O que eles estavam fazendo que permitiu esse rápido progresso?
Curiosamente, qualquer professor bem informado de história dirá como os muçulmanos eram os líderes quando o Alcorão era o centro de sua educação, e somente quando eles abandonaram o Alcorão como base de educação foi que perderam seu reino. O fato incrível quanto à isso é que enquanto os sábios Muçulmanos estão falando sobre realidades morais e espirituais, existe na verdade uma realidade material para o que eles estão dizendo.
A lista de tudo que é afetado no cérebro pelo Alcorão e como ele pode influenciar outras funções é extensa. Mas no intuito de manter a brevidade, eu escolhi algumas das maiores áreas para apresentar neste artigo.
Antes de chegar ao cérebro e em como o Alcorão o modifica, o sujeito deve estar familiarizado com como ocorre a educação tradicional Muçulmana. Em caso de você estar se perguntando de onde eu estou tirando isso, é da leitura das biografias das maiores figuras de sabedoria do mundo Muçulmano tradicional como Ibn Rushud, Ibn Sina e outros. Isto também é baseado em minha experiência pessoal e no que aprendi com alguns de meus professores.
A primeira coisa ensinada a um estudante aspirante era o Alcorão, que tinha que ser completamente memorizado. Diferente de qualquer coisa encontrada no Árabe falado, a recitação do Alcorão é uma ciência muito específica. Dialetos locais do Árabe ou as diferentes formas de pronúncia não são permitidas na recitação do Alcorão. Na verdade, parte do aprendizado do Alcorão é aprender o que se chama em Árabe de taj’weed, que significa elocução. A primeira coisa que um aluno deve fazer é copiar exatamente como o professor recita o versículo. Isso se refere a onde o som de cada letra está sendo gerado na boca e na garganta e onde exatamente a língua deve ser posta. Uma vez que isso é feito, o aluno escreve o versículo em uma tábua de madeira em escrita Otomana, que segue regras de caligrafia diferentes da caligrafia Árabe regular. O aluno então pega esta tábua e vai memorizar com ela o versículo. Uma típica sessão de memorização para um iniciante começa com a repetição de um versículo múltiplas vezes da forma como se lê na tábua também para memorizar como ele é escrito utilizando a caligrafia Otomana. No dia seguinte o aluno revisa o versículo diversas vezes antes de retornar ao professor para receber o versículo seguinte. Após repeti-lo com o professor para se certificar da imitação exata do som e da pronuncia, o aluno escreve o novo versículo e começa uma nova sessão de memorização. O terceiro dia começa com a revisão do primeiro versículo pela última vez, seguida do segundo versículo diversas vezes antes de receber o terceiro versículo. No quarto dia o primeiro versículo não é mais revisado, pois já estaria fixo na memória, e o segundo versículo toma seu lugar para ser revisado, enquanto que o terceiro versículo é repetido diversas vezes antes de se receber o quarto versículo. No final da semana há uma sessão completa de revisão de tudo o que foi memorizado nos dias anteriores.
Com o passar dos dias a capacidade de memorização aumenta e o aluno é capaz de pegar vários versículos ou mesmo páginas em vez de apenas um ou dois versículos. A escrita utilizando a caligrafia Otomana continua, assim como as sessões de revisão. Por fim, o Alcorão inteiro tendo mais de 6200 versículos é memorizado palavra por palavra com sua pronuncia específica e com a caligrafia Otomana. Então inicia-se uma difícil tarefa pois o aluno se esforça para revisar todos os versículos em uma base mensal para não esquecê-los. Isso geralmente significa pegar as 30 partes do Alcorão conforme ele foi dividido para facilitar a memorização, e revisar todos os dias até que todas as 30 partes tenham sido recitadas ao fim do mês.
Deve-se mencionar aqui que o Alcorão tem 10 formas diferentes de recitação. Isso se refere à colocação de acentos diacríticos nas palavras e como certas palavras são pronunciadas. Alguns alunos assumem esta tarefa e memorizam o Alcorão em todas as diferentes formas de recitação, o que requer uma atenção muito cuidadosa quanto à onde as pronúncias são diferentes para que elas não se confundam, devido ao quão sútil elas às vezes podem ser.
Há algumas qualidades importantes sobre o Alcorão relacionadas a como ele soa. Os versículos do Alcorão rimam e mudam a rima frequentemente, o que surte um efeito prazeroso para o ouvinte. Além disso, conforme a pessoa recita, ela deve cantar em vez de simplesmente ler. Na verdade, a própria prática do Taj’weed (elocução) força o recitador a entrar em um tom musical conforme ele enuncia as palavras de cada versículo.
Uma observação final que deve ser feita em relação à língua Árabe e à escrita Otomana. Parte do estudo das diferentes formas de recitação requer que o aluno escreva e não apenas com uma escrita incomum, mas também excluindo os pontos diacríticos das palavras. Isso permite que o aluno aprenda as variações de recitação sem ter os acentos diacríticos interferindo visualmente na sua memorização das diferentes formas de recitação. Além do mais, a gramática do Árabe requer um uso apropriado dos acentos diacríticos na pronuncia de forma que não confunda coisas, como sujeito e predicado. Isso significa que quem está aprendendo o Alcorão deve sempre estar atento a como as palavras são enunciadas para não alterar o significado do versículo.
Como tudo isso se relaciona com o cérebro é impressionante. O cérebro é reconhecido por ser um órgão maleável que pode modificar suas conexões e até mesmo seu tamanho em certas áreas baseado no quão ativas elas se tornam. Entender o quanto o cérebro de alguém está envolvido no aprendizado do Quran usando o método Muçulmano tradicional pode explicar como eles foram capazes de alcançar tamanho sucesso em seus esforços por conhecimento.
Enquanto se aprende o Alcorão, a atenção cuidadosa ao que se escuta e à pronúncia dos versículos estimula uma área do cérebro localizada no lobo temporal. O lobo temporal é também onde se localiza o hipocampo, que é o centro de consolidação da memória. É também a região do cérebro ativada para processar sons musicais como o caso de quando o Alcorão é recitado. Além disso, o cérebro está envolvido quando o aluno se ocupa com os exercícios de escrita similares aos da tábua de madeira. A importância disso é que é nesta parte do cérebro que os níveis de atividade e capacidades foram correlacionados com a aptidão da pessoa para aprender novas informações. Quanto mais ativação esta área recebe, e quanto mais envolvida está essa ativação como no caso com o Alcorão, melhor e mais eficiente ela se torna em suas funções para aprendizado e memória.
Os lobos parietais também estão pesadamente engajados enquanto o indivíduo aprende o Alcorão. O lobo parietal esquerdo lida com a leitura, escrita e funções da fala. É também a parte cuja atividade é importante para problemas matemáticos e lógicos. O lobo parietal direito lida com o tom da fala, que está relacionada com a elocução. É também responsável pelas relações visuoespaciais e compreensão de expressões faciais. A parte frontal é responsável pelo sentido de discriminação e reconhecimento tátil, que está ativo durante a escrita à mão. A parte posterior desempenha um papel importante na atenção. Ambos os lobos são ativados durante as tarefas de aprendizado de habilidades. De forma geral, possuir lobos parietais que foram bem ativados possibilita uma melhor lógica e habilidades de resolver problemas matemáticos, eloquência no discurso em geral, melhor habilidade de leitura de estados emocionais a partir de nuances faciais, atenção melhorada, e capacidade acentuada para entender relacionamentos visuoespaciais. Esta última pode explicar porque os Muçulmanos eram tão bons em Astronomia.
Outras regiões cerebrais que a atividade de recitação do Alcorão ativa significativamente são os lobos frontais e o córtex motor primário. A atividade dos lobos frontais lida com funções de ordem complexa, incluindo memória de trabalho (de curto prazo), memória de recuperação, produção de fala e reconhecimento de palavras escritas, atenção sustentada, planejamento, comportamento social e muitos outros. Por exemplo, enquanto o aluno está lendo a escrita Otomana, seu cérebro deve rapidamente decidir qual a pronúncia apropriada da palavra, que sem os acentos diacríticos significa que deve ser distinguida das outras possibilidades que incluem não apenas as palavras erradas, mas também a enunciação errada dependendo da recitação específica que ele estiver fazendo fora das 10 recitações válidas. O incrível sobre isso é que o cérebro após a prática fará essas coisas sem o controle consciente do aluno. Isso treina a área do cérebro responsável pela inibição, que é importante para a interação social. Sabe-se que crianças com TDAH têm esta área sub-desenvolvida.
Dado que o conteúdo do Alcorão, por exemplo, inclui descrições de indivíduos e locais, isso ativa os lobos occipitais, que estão envolvidos na geração de imagem mental. Esta região do cérebro é também importante na percepção visual. Tornando-se ativa como resultado da geração de imagem mental, ela indiretamente melhora a capacidade de percepção visual, uma vez que a área ativada está na mesma região. O Alcorão também é rico em seu conteúdo pelas histórias, parábolas e argumentos lógicos, todos os quais recrutam diferentes áreas que se tornam mais eficientes e melhor conectadas conforme elas são continuamente ativadas devido às sessões consistentes de revisão.
Juntando tudo isso, não é de se admirar que os Muçulmanos tenham sido capazes de tão vastas contribuições para o conhecimento humano em um espaço de tempo relativamente curto, historicamente falando. Após o estudante aspirante, durante a era do governo Muçulmano, ter memorizado o Alcorão, começava sua educação em outras ciências à época em que ele estava no início da adolescência. Devido à natureza maleável do cérebro, as conexões melhoradas em uma região indiretamente afetavam e melhoravam funções em localizações adjacentes. O processo do estudo do Alcorão ao longo dos anos anteriores treinava o cérebro e acentuava suas funções relacionadas à percepção visual, linguagem, memória de trabalho, formação da memória, processamento de sons, atenção, habilidades de aprendizagem, inibição assim como planejamento, só para mencionar algumas. Agora imagine do que tal indivíduo é capaz ao abordar qualquer assunto. Faz sentido como alguém como o Imam Al Ghazali pode dizer que ele estudou filosofia grega durante seu tempo livre e tornou-se especialista dentro de 2 anos.
Qual era o segredo dos Muçulmanos para sua superioridade exponencial em avanços científicos e contribuição para o conhecimento humano? Literalmente, o Quran quando era o centro de seu sistema educacional.
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